Dor crônica e atividade laboral
características psicossocias de pacientes de uma clínica de dor do interior paulista
Palavras-chave:
Dor crônica, aspectos psicossociais, atividade laboralResumo
Estudos estimativos apontam que as principais doenças globais no ano de 2030 serão doenças crônicas que apresentam como sintomas a dor. Nesse sentido, o presente estudo tem por objetivo realizar um levantamento das características psicossociais e a correlação com a atividade laboral de pacientes atendidos em uma Clínica de Dor. Foi realizado um estudo retrospectivo por meio de dados arquivados de avaliações psicológicas de duzentos e um pacientes com diagnóstico de dor crônica não oncológica de etiologia variada em tratamento na Clínica de Dor do Hospital de Base de São José do Rio Preto – SP. No total foram utilizados os dados de 187 pacientes. Foram excluídos quatorze protocolos em virtude de dados incompletos. Houve predominância de pacientes do sexo feminino (68,4%), casados (64,7%), com até o primeiro grau de escolaridade (65,8%), e com idade média de 47 anos (±12,06), variando entre 18 e 77 anos. Quanto à atividade profissional, 71,1% encontravam-se inativos sendo: n=96 (51,3%) afastados, n=13 (6,95%) desempregados e n=24 (12,8%) aposentados. A intensidade de dor foi avaliada a partir da Escala Analógica de Dor que variou entre 1 e 10 pontos, considerando uma escala de 0 (sem dor) a 10 (dor insuportável), com intensidade média de 7,75 pontos. O tempo médio de duração da dor variou entre seis meses e quarenta anos, com média de 84.1 (±82,02) meses, cerca de 7 anos. Os dados da CPSS apontaram que 140 pacientes (74,9%) apresentaram indicadores de baixa autoeficácia frente ao controle de sintomas, percepção de capacidade de lidar com a dor e de realizar suas tarefas de vida diária. A Escala de Ansiedade e Depressão (HAD) nesta amostra apontou que cerca de n=138 pacientes (73,8%) apresentaram indicativos para um possível diagnóstico de ansiedade e n=133 pacientes (71,1%) apresentaram indicadores para um possível diagnóstico de depressão. Destes, 118 (63,1%) apresentaram indicadores de ansiedade e depressão concomitantes. Observou-se uma relação entre autoeficácia e atividade ocupacional. Comparando as médias dos escores de autoeficácia entre pacientes ativos envolvidos em atividades remuneradas e não remuneradas (160.6) e a média de escores de autoeficácia de participantes profissionalmente inativos-afastados, aposentados, desempregados e sem envolvimento com atividades não remuneradas (129.2) foi possível verificar uma diferença estatisticamente significante nos indicadores de autoeficácia (p=0.0007). Os dados também apontam uma diferença significante entre ativos e inativos nos escores de ansiedade (p= 0.0003) e depressão (p=0.0003). Por conseguinte, o Inventário de Atitudes Frente a Dor (IAD) nessa amostra resultou diferença significativa com relação aos participantes envolvidos em atividades ocupacionais e os não envolvidos, nas sub-escalas de controle (p=0.0332) dano físico (p=0.0464) medicação (p=0.0018) e incapacidade (p=0.0182). Pacientes ativos apresentam tempo menor de convivência com a dor, porém sem significância estatística. Também não foi observada diferença significante entre a intensidade da dor de pacientes ativos e os considerados inativos. Portanto, neste estudo, baixa autoeficácia, crenças disfuncionais, vulnerabilidade a ansiedade e depressão mostraram-se mais associados aos pacientes considerados inativos.
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