Autor : Por Rui Gilberto Ferreira, presidente da Associação Médica de Goiás
Na última década, o número de médicos brasileiros cresceu 21,3%, índice superior ao aumento da população no mesmo período, que foi de 12,3%. Nós já somos cerca de 400 mil profissionais em atividade, o que coloca o Brasil como o quinto país em número absoluto de médicos, segundo a pesquisa Demografia Médica no Brasil, encomendada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e divulgada em janeiro.
A pesquisa reitera que não há falta de médicos, mas que eles estão distribuídos de forma desigual entre as regiões. O Sudeste e o Sul continuam a concentrar a maioria – com duas vezes mais médicos que as outras regiões. Os motivos são óbvios: a maior oferta de emprego, de rede de hospitais, de escolas e a melhor qualidade de vida acaba atraindo mais profissionais.
E aí vem o governo sugerir a revalidação automática de diplomas de médicos estrangeiros, o que é uma grande tolice porque o governo acha que esses médicos do exterior vão se contentar com qualquer salário? Esse é mais um equívoco do governo na área de Saúde. Sugiro uma política de incentivo financeiro, com plano de cargo e salários, e melhores condições de trabalho para fixar os profissionais no interior.
Uma conjunção de fatores – como a ausência de políticas públicas efetivas nas áreas de ensino e trabalho, assim como poucos investimentos – tem contribuído para que a população médica brasileira, apesar de apresentar uma curva constante de crescimento, permaneça mal distribuída pelo território nacional e com baixa adesão ao trabalho na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente nas áreas de difícil provimento.
E este é outro problema ainda mais grave. Os usuários de planos de saúde dispõem de 3,9 vezes mais médicos que os pacientes da rede pública, considerando a população atendida pelo SUS d e quase 145 milhões de brasileiros e a atendida pelas operadoras, superior a 46 milhões de clientes.
Apenas a contratação de médicos (brasileiros ou estrangeiros) não é suficiente para garantir o bom funcionamento da assistência. É preciso investir e dar condições para que qualquer profissional exerça seu papel. Sem isso, sua presença será apenas um paliativo.
Inclusive, não somos contra a contratação de médicos formados no exterior. No entanto, defendemos a validação dos diplomas de forma criteriosa. A contratação de médicos formados no exterior não garante que os profissionais permaneçam em cidades pequenas. Sem a estrutura mínima, a tendência é que migrem para centros mais desenvolvidos. Com isso, a falta de cobertura continuará. Esta é mais uma das improvisações de políticas de governo e não de Estado que tentam dar respostas de curto prazo a problemas que preocupam a população.
Nós, da Associação M édica de Goiás (AMG), junto com o Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) e o Sindicato dos Médicos do Estado de Goiás (Simego), defendemos a mesma posição das entidades nacionais: é preciso criar uma carreira de estado específica para o SUS, assim como existe para os militares, juízes e promotores, e garantir a estrutura física para o exercício das atividades. Estamos certos de que isso incentivará a migração de médicos para o interior.