AMG ENTREVISTA
Ter um boa noite de sono é revitalizante e essencial para uma vida saudável. Para falar
sobre os Transtornos do Sono, a Associação Médica de Goiás convidou a Dra. Giuliana
Macedo Mendes, presidente da Associação Regional do Sono Centro-Oeste, vinculada a
Associação Brasileira do Sono – ABS, entidade que celebrou, entre 13 e 19 de março de
2023, a Semana Nacional do Sono que teve como intuito alertar a população
sobre a importância de um sono de qualidade.
A Dra. Giuliana Macedo Mendes possui graduação em Medicina pela Universidade
Federal de Goiás (1995), Especialização-Residência Médica em Neurologia (1997 a
2000), em Neurofisiologia Clínica pela Universidade de São Paulo-USP-RP (2001 a 2002)
e Mestrado em Neurologia pela Universidade de São Paulo-USP-RP (2004). Também é
Professora do Curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica PUC-Goiás (2008 e
2009 / 2014 até o momento); Especialista em Neurologia pela Academia Brasileira de
Neurologia (ABN); Especialista em Medicina do Sono pela ABN e Associação Médica
Brasileira (AMB) e Médica proprietária do IES-Instituto de Especialidades e Sono, em
Goiânia, com atuação em Neurologia e Neurofisiologia Clínica.
Confira a entrevista:
AMG: Do que se trata a Medicina do Sono?
Dra. Giuliana Macedo: A Medicina do Sono é uma área que trata dos Transtornos do
Sono. Neste sentido, podemos listar alguns dos Transtornos mais prevalentes na
população, dentre eles o Transtorno de Insônia Crônico, quando a insônia está
presente por pelo menos 3 meses, ocorrendo a dificuldade em dormir por 3 vezes por
semana. É importante também saber que a insônia pode ser sintoma de alguns
Transtornos de Humor como Ansiedade e Depressão. Entretanto, com o tratamento,
se a insônia persistir, ela deixa de ser apenas um sintoma e passa a ser o Transtorno de
Insônia. Aproximadamente 15% da população mundial tem Transtorno de Insônia. E
além da insônia, os Transtornos Respiratórios do Sono, como Ronco e Apneia do Sono
também são muito prevalentes, sendo classificados como doenças de saúde pública,
pois acometem cerca de 33% da população.
AMG: O Transtorno do Sono pode ser considerado uma doença?
Dra. Giuliana Macedo: Sim, quando você está falando em Transtorno ou Distúrbio já
tem o CID (Código Internacional de Doença). Entrando nisso, o Ronco não sendo uma
condição normal, embora seja culturalmente aceito, ele é caracterizado como doença.
Assim, o Ronco, como outros Transtornos Respiratórios do sono são doenças crônicas
e progressivas, que pioram com o passar dos anos. E, infelizmente, o diagnóstico é
tardio e afeta a qualidade do sono e a saúde de uma forma geral.
AMG: A abordagem destes Transtornos durante a Semana do Sono é
multidisciplinar?
Dra. Giuliana Macedo: Sim. O sono é uma área que precisa de interdisciplinaridade em
sua abordagem, tanto para difusão de conhecimentos sobre o sono, como para
engajamento. Todo mês de março, na terceira semana, temos a Semana Mundial do
Sono, uma iniciativa da Academia Americana de Medicina do Sono (AAMS) e, no Brasil,
a ABS-Associação Brasileira de Sono, que é uma entidade multidisciplinar, com várias
áreas de atuação como: medicina, psicologia, fisioterapia, odontologia, fonoaudiologia,
área básica, biologia, nutrição, educação física entre outros, promove a Semana do
Sono e de Cursos de Educação Continuada. As ações da Semana do Sono ocorrem
junto aos profissionais de saúde e à população, trazendo informações de como noites
mal dormidas podem afetar a vida de uma pessoa. São realizadas lives, palestras,
vídeos e entrevistas nos meios de comunicação, tanto para acadêmicos, profissionais
de saúde, como para a população.
AMG: Como os Transtornos do Sono afetam a sociedade?
Dra. Giuliana Macedo: Depende de qual Transtorno estamos falando, se estivermos
falando do Transtorno de Insônia, são vários fatores envolvidos. Existem fatores
predisponentes, que estão ligados à fatores genéticos, além dos fatores precipitantes
que funcionam como gatilhos para o aparecimento da dificuldade em dormir e, por
último e fundamental, para a cronicidade da insônia, temos os fatores perpetuantes,
que são responsáveis pela perpetuação da insônia, como maus hábitos de vida que
afetam diretamente no início e manutenção do sono, além de doenças comórbidas,
como Ansiedade, Depressão, Dor Crônica, entre outras, que também, se não tratada,
podem influenciar na perpetuação da insônia. Doenças Cardiovasculares (Hipertensão,
Arritmia, Infarto, AVC), Metabólicas (Obesidade, Diabetes e Neurodegenerativas
(Demências, D. de Parkinson) também estão na lista. O ponto chave da perpetuação da
dificuldade em dormir são os hábitos inadequados ao longo da vida, atuando como
perpetuantes da insônia.
Todos nós podemos ter uma noite ruim, dormir mal; agora, quando se fala em
Transtorno é diferente. O Transtorno de Insônia está presente em uma pessoa que já
vem sofrendo com isso há pelo menos 3 meses.
AMG: Como tratar a insônia?
Dra. Giuliana Macedo: O tratamento deve ser personalizado e baseia-se numa
abordagem tanto comportamental como medicamentosa. O padrão-ouro de
tratamento, ou seja, que tem mais evidência científica e eficácia a longo prazo é a
Terapia Cognitiva Comportamental para Insônia- TCCi, realizado por um(a) psicólogo
do sono, certificado pela ABS, em conjunto com o médico do sono, que irá tratar as
doenças citadas que pioram e perpetuam a insônia, sendo abordados todos os maus
hábitos gerados ao longo dos anos. O uso de indutores do sono deve ser muito
criterioso e individualizado para cada paciente e, caso seja necessário, deve ser sempre
prescrito por um médico, especialista em sono, a depender do perfil de cada paciente
e por um curto período de tempo. São tratamentos muito individualizados, tendo que
ser avaliados todos os fatores, sejam eles as condições intrínsecas, digo as doenças
que o paciente apresenta, os fatores psicológicos/emocionais envolvidos, assim como
os hábitos de vida, tanto durante o dia como a noite, que refletem diretamente na
qualidade do sono e/ou manutenção de um Transtorno de Insônia.
AMG: O que seria o mundo 24 horas?
Dra. Giuliana Macedo: Uma reflexão muito interessante demonstra que nos últimos
anos o ser humano vem dormindo cada vez menos, ficando o sono não valorizado, em
função das demandas de trabalho e socias. Mais importante no mundo moderno é
obter um sucesso profissional, dar conta de todas as tarefas familiares e sociais e
acabamos, sem perceber, sendo atraídos pelas mídias socias mantermos mais tempo
acordados. Por conta desse mundo 24 horas, estímulos são gerados o tempo todo, seja
por energia elétrica, internet, redes sociais, entre outros. A luz é a grande inimiga do
sono, pois inibe o principal hormônio do sono, que é a melatonina. As pessoas que são
muito ansiosas, muitas vezes buscam refúgio nas telas para “esquecerem” as
preocupações momentaneamente, com o intuito de ajudar a dormir, mas muitas não
sabem o tanto que este hábito atrapalha na hora de dormir.
AMG: Qual o efeito das terapias comportamentais para o cuidado com esses
transtornos?
Dra. Giuliana Macedo: O principal tratamento hoje (padrão-ouro), em se falando de
Transtorno de Insônia Crônica, é o comportamental, que precisa ser associado ao
tratamento medicamentoso para aquele paciente que apresente doenças, que possam
estar perpetuando a insônia. A medicação bem indicada pelo médico do sono, tendo
orientação de dose correta e de quanto tempo o paciente pode fazer uso, ele é benvinda se associado ao tratamento comportamental, já mencionado.
AMG: Quais seriam os modos preventivos e cuidados que devemos nos atentar?
Dra. Giuliana Macedo: Temos que entender que tudo na nossa vida, seja na esfera
física ou mental, precisa de rotina. Com o sono não é diferente. É preciso uma rotina
para dormir bem. É necessária uma quantidade de horas adequadas, dentro daquilo
que é recomendado para cada faixa etária, lembrando que a quantidade de horas
necessária é individual. Além disso, bons hábitos de vida devem ser realizados como:
praticar atividade física regularmente, de preferência pela manhã, sob a luz do sol; ter
horários regulares de se deitar e levantar; evitar privação de sono voluntária,
respeitando e valorizando a nossa necessidade genuína de descanso e sono; evitar
telas, como uso de TV, computador e principalmente o celular, no período noturno,
pelo menos de 1 a 2 horas antes de ir deitar; evitar bebidas cafeínas pelo menos 6
horas antes de se deitar, além do café, energéticos, refrigerantes, chás cafeinados e
também devem ser evitados. A nicotina também é contraindicada, pois como a cafeína
são um estimulante do nosso alerta, dificultando o relaxamento cerebral para que o sono
possa acontecer. Recomenda-se também manter o quarto de dormir escuro, sem TV e
não usar o celular ao deitar-se, sendo o ideal deixa-lo carregando em outro cômodo ao
ir deitar.
É importante entendermos que o nosso sono obedece a um ciclo circadiano, no qual
produzimos substâncias, chamadas de neurotransmissores da vigília durante o dia e
neurotransmissores da noite, que ajudam a induzir o sono, que ocorre através da
regulação da melatonina, que é o hormônio do sono, responsável por
sinalizar/sincronizar o nosso sono. Por esta razão fomos programados para dormir no
período noturno, já que a melatonina é inibida tanto pela luz do sol, assim durante o
dia não a produzimos, como pela luz artificial. À medida que começa a escurecer,
começamos a liberar melatonina pela glândula pineal, gradativamente, até atingir uma
concentração cerebral que sinaliza nossa sonolência e nos prepara para iniciar o sono.
Por isso a grande importância de se evitar luminosidade, principalmente das telas (luz
azul), no período noturno, próximo ao horário de dormir.
Concluímos assim que para se dormir bem precisamos de limites e rotina, além de uma
investigação clínica de todos os fatores predisponentes, que precipitam e perpetuam a
dificuldade em dormir, que são responsáveis pela manutenção da insônia ou sono de
má qualidade. Existem mais de 80 Transtornos do Sono que podem causar um sono
não restaurador/reparador e que se não diagnosticados e tratados podem afetar
diretamente a nossa qualidade de vida e desenvolvimentos de várias outras doenças.
A importância do sono para nossa saúde é ímpar e deve ser compreendida e
valorizada, não apenas para tratarmos os Transtornos do Sono, que são muito
prevalentes, mas para promover saúde, pois um sono de qualidade, aliado à prática de
atividade física regularmente, e à uma alimentação equilibrada são promotores de
saúde!
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