Autor : Por Rui Gilberto Ferreira, presidente da Associação Médica de Goiás
Contratar médicos estrangeiros não resolverá o caos da saúde pública brasileira, aliás pode torna-la ainda mais caótica
No processo constante de desvalorização da medicina e do médico brasileiro, o governo federal agora está criando uma nova maneira. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, integrantes do Ministério da Educação e reitores de universidades brasileiras estão discutindo possibilidade de contratar médicos estrangeiros para o trabalho na área de atenção básica à saúde para regiões do país com carência de profissionais.
A Associação Médica de Goiás (AMG) vem a público para informar que repudiamos esta proposta governamental por acreditar que esta medida não irá garantir um atendimento de qualidade para a população. O resultado do último Revalida, processo de revalidação dos diplomas dos médicos estrangeiros mostrou que a formação deles é questionável, já que apenas 14% dos inscritos obtiveram aprovação.
Está comprovado que a defasagem no número de profissionais para atender nas periferias das grandes cidades e em cidades do interior se deve à falta de subsídios e convênios que valorizem o trabalho médico. Não está faltando médicos, o que está faltando é salário digno e condições adequadas de trabalho. Como a maioria das prefeituras não tem condições de pagar os médicos, é preciso que o governo crie o piso salarial e plano de carreira para nossa categoria, com repasses para os municípios carentes. Só dessa forma teremos uma distribuição adequada de médicos por todo o território nacional.
A saúde do país passa por muito mais questões que têm de ser vistas ao microscópio para uma avaliação mais isenta. A saúde pública no Brasil é uma questão que necessita de mais atenção dos órgãos competentes. A realidade nos mostra um país onde as políticas públicas são incoerentes e desrespeitam a sociedade. Nós médicos nos sentimos envergonhados quando nos vemos obrigados a parar nossas atividades para reivindicar do governo melhores condições de trabalho e reajuste salarial. Estamos diante de uma situação em que nós profissionais e o povo somos as vítimas de um sistema injusto e feito para o bem estar de poucos.
Deparamo-nos cotidianamente com situações imorais envolvendo personalidades públicas e agora vemos estas mesmas pessoas querendo se aproveitar da crise econômica que assola a Europa para importar mão de obra barata e deteriorar ainda mais as condições de vida dos médicos brasileiros, o que irá, consequentemente, refletir na qualidade do já combalido serviço de saúde pública prestado à população. Convocamos os médicos e a se unirem à AMG em mais uma batalha e convidamos a sociedade goiana a se manifestar nesta caminhada para garantir uma saúde pública que atenda aos anseios e necessidades de todo o povo brasileiro.